Das questões provocativas levantadas por David Treece na sua palestra de abertura, ‘A special case? Exceptionalism and interdisciplinarity in Brazilian cultural studies’, [‘Um caso especial? Excepcionalismo e interdisciplinaridade nos estudos culturais brasileiros’] à recepção final onde @s participantes confraternizaram, tomando vinho brasileiro oferecido pela Embaixada do Brasil em Londres, o evento ‘Remapeando os estudos culturais brasileiros’ (Londres, 25 de setembro de 2015) foi intenso e instigante. Revelou um campo de estudos dinâmico, diverso e inclusivo.
Juntando apresentações de pesquisadores do Reino Unido, da Holanda, da França, e da Espanha, incluindo acadêmic@s estabelecid@s e alun@s de doutorado, o evento contou com a presença, na sessão de abertura, de sua Excelência Eduardo dos Santos, novo Embaixador do Brasil em Londres, e do Secretário do Setor Cultural, Sr. Hayle Gadelha.
A agenda cheia permitiu incluir temáticas variadas em um só dia. De manhã, as sessões abarcaram desde as indústrias culturais (as políticas culturais do Brasil, discutidas por Carmen Villarino Pardo, e o papel e a função de diferentes tipos de curadores culturais, na apresentação de Leonardo Tonus), releituras do cânone literário (neste caso, uma apresentação de Felipe Botelho sobre o estudo da obra de Lima Barreto desde a perspectiva das humanidades digitais, uma apresentação de um novo projeto de pesquisa sobre João do Rio, de Ana Paula Cardozo de Souza, e finalmente, como parte da obra jornalística de Clarice Lispector está sendo retrabalhada na televisão, discutido por Claire Williams).
Antes do almoço, na mesa sobre os estudos culturais brasileiros na sala de aula, Rosane Ramos apresentou diferentes recursos eletrônicos que podem servir para aprofundar o estudo da literatura brasileira e sua tradução, e Antônio Márcio da Silva discutiu o uso de audiovisual e a exposição de diferentes registros, inclusive aqueles vistos como menos nobres, em aulas de português brasileiro. Aquiles Brayner fez o papel de debatedor.
Na parte da tarde, a primeira mesa abordou questões identitárias no Brasil, com participação de Lúcia Sá, falando sobre o racismo enfrentado pelos povos indígenas no país, Louise de Mello, trazendo dados etnohistóricos e etnográficos sobre identidade étnica e nacionalidade na região sudoeste da Amazônia, e finalmente André Cicalo, discutindo circuitos turísticos afro-brasileiros no Rio de Janeiro.
O tema da sessão seguinte foi ‘visibilidades digitais’ e contou com apresentações de David Wood, falando sobre a presença do futebol na literatura brasileira (incluindo material contemporâneo online), Thea Pitman, falando sobre como chegou a pesquisar conteúdo digital produzido por povos indígenas no Brasil, e finalmente Tori Holmes, apresentando um trabalho sobre webdocumentários que retratam os processos de transformação urbana atualmente acontecendo no Rio de Janeiro.
A terceira mesa da tarde focou a questão dos intercâmbios culturais, ou o Brasil/a cultura brasileira em perspectiva internacional. Lisa Shaw fez a primeira apresentação, sobre como a voz de Carmen Miranda passou por modificações, impostas ou não, em Hollywood. Depois foi a vez de César Jiménez-Martínez de falar sobre a visibilidade do Brasil na mídia, baseando-se em entrevistas com diferentes tipos de jornalistas. Finalmente, Vivian Kogut Lessa de Sá discutiu o caso de Anthony Knivet, pirata inglês que esteve no Brasil no século 16 e escreveu um livro sobre suas experiências.
Na penúltima mesa, sobre questões do passado, Tatiana Heise apresentou seu trabalho sobre o filme Que Bom Te Ver Viva, e Vinicius de Carvalho atuou como debatedor.
A mesa-redonda final, com a participação de Emanuelle Santos, Sara Brandellero, Bernard McGuirk, e Rui Miranda, discutiu os desafios de estudar, pesquisar e ensinar a cultura brasileira desde o hemisfério norte.
Fizemos uma ampla cobertura pelo Twitter e pelo Facebook, e nessa empreitada contamos com a colaboração de outros colegas, também postando relatos e fotos (muito obrigada!). Na hora do almoço, houve a projeção de fotos das comunidades do Rio Xingu, tiradas por Sue e Patrick Cunningham, presentes no evento. Gostaríamos de agradecer @s colegas que apresentaram trabalhos, participaram como debatedores e ajudaram com a moderação das mesas, ao Institute of Latin American Studies pelo financiamento, pelo uso do espaço e pelo apoio logístico, e à Embaixada do Brasil em Londres pelo apoio dado pelo Embaixador Eduardo dos Santos e pelo vinho oferecido para o coquetel de fechamento do evento.
O clima no evento foi muito positivo e de muitas trocas, muitos encontros e reencontros, reforçando a ideia de que existe de fato uma demanda para uma rede europeia que conecte @s pesquisadores trabalhando na área de estudos culturais brasileiros. Ao mesmo tempo, o congresso contou com a participação de colegas não-‘brasilianistas’, atualmente trabalhando com temáticas brasileiras, enfatizando o espírito aberto e construtivo do evento.

Primeiro plano, Embaixador Eduardo dos Santos e Secretário Hayle Gadelha, na plateia do evento. Foto: REBRAC